A vã inovação no setor público

5 atitudes que nos distanciam do propósito de inovar no setor público

“Há mais coisas entre o problema e a solução do que pressupõe vossa vã inovação.”

O setor público tem se dedicado bastante para acompanhar as mudanças sociais. A insurgência atingiu também alguns burocratas insatisfeitos com o “gap” entre o que é feito e o que é possível fazer. Práticas e métodos para fazer diferente estão chegando para ficar e a inovação está de uma vez por todas na pauta das agendas governamentais.

Para que os agentes públicos possam atuar diante deste cenário, um novo conjunto de competências deve ser construído ou vamos matar a inovação antes dela nascer. Não podemos deixar escorrer pelas mãos a oportunidade de transformar profundamente o setor público. Mais do que inovações, precisamos criar inovadores.

Inovação em contexto

“Você está falando de inovação enquanto pessoas morrem nas filas dos hospitais?”

A frase acima carrega certa incompreensão do significado de inovar no setor público, mas ao mesmo tempo mostra um ponto de atenção para que a inovação não seja uma coisa boba, vazia e sem valor. Sendo assim, o cuidado na vociferação e utilização de jargões, métodos, técnicas e, especialmente, ferramentas para inovar, se faz necessário. A inovação adequada pode solucionar muitos problemas, inclusive os de saúde pública, como no caso de pessoas morrendo em filas.

Para que a inovação seja significativa, existem muitos caminhos possíveis, cada pessoa deve buscar um que faça sentido para sua realidade e maturidade da sua instituição. As técnicas devem ser construídas genuinamente para o setor público. Ainda que sejam referências importantes, as adaptações empresariais – pegar do mercado; CTRL+C; CTRL+V no setor público – tem limites.

Independente do caminho escolhido, uma atitude inovadora autêntica é necessária. Portanto, deve-se evitar algumas atitudes e comportamentos. As linhas que definem um comportamento prejudicial são tênues, mas uma observação profunda nos ambientes e organizações (públicas ou privadas) que estão trabalhando a inovação no setor público, pode revelar a autenticidade e propósito das iniciativas.
Dentro deste contexto, quero explicitar algumas atitudes que temos observado – individuais e/ou institucionais – que tornam a inovação no setor público vã. Seguem os pontos de atenção:

1. Design Thinking is the new black

O design thinking despontou como abordagem favorita dos inovadores públicos, pois acabou apontando caminhos antes não evidenciados dentro do umbral governamental. Tornou-se produtivo e divertido descobrir formas de melhorar as entregas de serviços para usuários internos ou cidadãos.

Sendo assim, essa abordagem (e outras variantes semelhantes, como Service Design), não pode ser um fim em si mesma, pois não resolve todos os problemas complexos presentes nas instituições. A popularidade do Design Thinking como método para inovação, revela dois riscos principais: (1) ser apenas “a moda da vez”, e (2) a aparição de impostores oportunistas.

2. (Des)Foco no cidadão

Mesmo em atividades meio, que atendam somente clientes internos, toda instituição pública deve estar conectada com o propósito de servir as pessoas, sempre. Qualquer inovação deve olhar para entrega final de serviços.

O distanciamento do propósito de servir pode destruir o significado da inovação, pois os benefícios reais das iniciativas acabam sendo individualizados, para progressão de carreira, ego ou projetos de pesquisa que não atendem as necessidadaes dos cidadãos e estão distantes de solucionar problemas reais.

3. Laboratórios em todo lugar

Os ambientes significativos para que a inovação aconteça são fundamentais. Todo inovador público almeja um espaço diferente para trabalhar. O gatilho natural é criar um ambiente próprio, mais conhecido como laboratório de inovação. Porém, antes de construir um Maracanã, aprender a tocar a bola é fundamental.

A inovação deve acontecer mesmo sem um laboratório, a instituição deve incorporar em suas rotinas a mentalidade de experimentação que florescem nesse espaços. Muita coisa pode ser feita sem um lab.

4. Altivez tóxica

“Qualquer inovação, desde que seja a minha.”

Algumas pessoas apresentam-se como gurus milagrosos e criam propostas fabulosas para inovar no setor público. É preciso um mindset de crescimento, aberto e diferente dos padrões projetuais tradicionais. Sendo assim, diplomas, cargos e títulos devem ser observados com ceticismo quando o tema é inovação no setor púbico. A altivez tóxica implica que somente determinado percurso é possível para inovar. Presunção e arrogância, repelem criatividade e colaboração.

5. Dinheiro na mão é vendaval

Claro que os investimentos são necessários. Em muitos casos, priorizá-los de forma diferente é uma grande inovação. Consultorias milionárias, viciadas em seu modus operandi, tem pouco a entregar em termos de custo x benefício. A conta não fecha, é o contribuiente que paga. Otimizar recursos e aproveitar a inteligência construída durante a missão de inovar é o caminho mais sensato para a inovação no setor público.

Conclusão: Inovação no setor público

Qualquer técnica que priorize a solução de problemas e melhore a vida das pessoas, que possa ser acessada em qualquer ambiente, com humildade necessária para executar as transformações e fazendo investimentos moderados com o dinheiro público.
São essas atitudes que esperamos de um setor público inovador. Caso contrário, inovar pode ser insensato, pois como sabemos, ainda há pessoas morrendo nas filas dos hospitas.

Quer inovar a sua instituição?

Agende um conversa conosco. Será um prazer ajudar.

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

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