O cenário dos laboratórios de inovação no setor público

André Tamura
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Criatividade e experimentalismo necessários

É crescente o interesse e a sensibilização pelo valor potencial da inovação em governo. Refletindo essa tendência, na década passada vimos a emergência de uma nova forma de organização híbrida – conhecida por vários nomes, como laboratórios de mudança, times de inovação, e laboratórios de inovação. Essas organizações estão dando à formulação de políticas e ao desenho de programas públicos uma injeção de criatividade e experimentalismo necessárias – aproximando atores para explorar soluções de problemas complexos, e desenhar e testar novas abordagens e soluções.

Enquanto alguns desses times de inovação se voltaram a empresas privadas para inspiração (MindLab, por exemplo, foi inspirado pela unidade de inovação da corretora de seguros Skandia), dizer que são simplesmente um produto de governos emprestando ideias do setor privado não é o mais correto.

Na realidade, a base para laboratórios de inovação não é exatamente uma nova ideia para o setor público. Se voltarmos ao século XIX conseguimos perceber sinais, como no caso de Robert Owen, na Escócia, que percebia suas cooperativas, escolas e sistema de saúde como um laboratório. Outro exemplo de um laboratório de inovação do século XX é o de Wilbur C Philips – Laboratório Nacional Social – que em 1916 foi pioneiro em usar a participação cívica como direcionador de serviços públicos.

Um cenário em mudança

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A proliferação recente de laboratórios pode ser claramente explicada quando considerada em contextos mais amplos. Governos ao redor do mundo estão enfrentando desafios cada vez mais complexos – com populações envelhecendo, restrições orçamentárias, e aumento crescente das expectativas dos cidadãos, entre outros. A complexidade desses desafios está muitas vezes em desacordo com a formulação tradicional e departamentalizada das políticas públicas.

Mudanças significativas tem acontecido na filosofia dos próprios governos: de uma gestão de administração pública tradicional (em que serviços públicos são feitos para as pessoas), para um novo paradigma de “governança em rede” (em que serviços públicos são co-criados por e com cidadãos). Além disso, um grande número de serviços públicos está sendo disponibilizado digitalmente, o que permite uma prototipação rápida em uma escala maior e com um custo menor. Com isso, podemos sentir a mudança no cenário em que laboratórios de inovação em governo e times de inovação estão emergindo.

Afinal, o que são times e laboratórios de inovação?

Laboratórios de inovação são uma nova forma institucional de enfrentar desafios de políticas e do setor público de uma forma radicalmente diferente das abordagens tradicionais. A proliferação enfatiza que se governos estiverem dispostos para abrir suas portas para inovação, eles precisam criar recursos, habilidades, espaço dedicados – reais ou virtuais – e suporte executivo para possibilitar que a inovação aconteça.
Enquanto não há um modelo fixo para laboratórios de inovação – e essas formas institucionais variam muito em suas estruturas de governança e mandatos – o que os diferencia de outras formas de times de inovação ou organizações é a adoção de métodos experimentais para atacar problemas sociais e públicos.

Características comuns de laboratórios de inovação no setor público

  • envolvimento de usuários em todas as fases de desenvolvimento do serviço e da formulação de políticas (co-criação);
  • colaboração de vários atores do governo e de fora dele – por meio de parcerias do setor público, privado e civil;
  • uso de abordagens multidisciplinares – partir da experiência diversificada do time, incluindo design, formulação de políticas, etnografia, economia comportamental e análise de dados, para atacar problemas.

Esses laboratórios estão em diferentes graus de envolvimento com o poder executivo, podendo estar dentro do governo ou trabalhar independentemente com alianças estratégicas com agências do governo.

Laboratório de Inovação no Brasil

Temos como exemplo de laboratórios no Brasil, o iGovLab em São Paulo, e, recentemente lançado, um laboratório no Governo Federal, resultado de um acordo feito entre o Brasil e o laboratório da Dinamarca, MindLab.
A emergência desses laboratórios é a prova de que governos estão acordando para a necessidade de olhar além das políticas públicas e entrega de serviços “top down”. Laboratórios de inovação em governo demonstram que humildade pode e deve ter um papel crítico em como governos funcionam – ao ter a humildade de saber que experimentação e evidência é necessária antes de se implementar projetos imensos.

“Laboratórios de inovação podem não estar por aí para sempre – mas o espírito que os motiva deveria.”

Sophie Reynolds @SophsASophist

Traduzido e adaptado de Design For Europe. Escrito por Sophie Reynolds – Pesquisadora, Inovação Pública e Social (NESTA).

Por André Tamura

Pai e Marido. Fundador e Diretor Executivo da WeGov. Empreendedor entusiasta da inovação no setor público e das transformações sociais. Estudou Administração de Empresas e Ciências Econômicas. Desde que trabalhou como operário de fábrica no Japão, tem evitado as “linhas de produção”, de produtos, de serviços e de pessoas. Em 2017, foi condecorado com a Medalha do Pacificador do Exército Brasileiro.

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