Machismo nas organizações públicas

Cristina Schwinden
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Ainda somos vítimas?

Nas organizações públicas, devido aos planos de cargos e salários, a diferença salarial entre homens e mulheres não são tão graves quanto na iniciativa privada. No entanto, quando falamos em machismo nas organizações, não estamos abordando apenas a questão salarial, mas uma série de outros fatores que influenciam no trabalho da mulher.

Atualmente sou Secretária Municipal dentre 17 cargos similares na Prefeitura, apenas mais dois destes cargos são ocupados por mulheres. Este indicador demonstra o quanto a mulher ainda não se envolve na política como deveria.
Deixando as proporções de lado, o que mais enfrento na organização tendo um cargo de liderança, é a prova de como cheguei até aqui. Explique-se: quando uma mulher assume um cargo de alto escalão, muitas (disse muitas!) pessoas, incluindo aí mulheres, sequer analisam a experiência e o currículo da profissional. Comentários machistas surgem de todas as partes, evidenciando primeiramente o fato de ser mulher e a trazendo para uma posição de “como que ela chegou ali?”.
Várias hipóteses permeiam o imaginário de quem sequer questiona se a profissional em questão tem conhecimento para assumir o cargo. Tais hipóteses reduzem a mulher a alguém que não tem capacidade, mas que utilizou de “outros meios” para alcançar o sucesso profissional. O mesmo cargo, se ocupado por homem, não traz este questionamento. Provar o merecimento do cargo é rotina diária, mesmo que o trabalho seja bem executado; mesmo que o currículo possua a melhor faculdade da área, mestrado, experiência, recomendações…
O machismo não está apenas nos comentários ou no preconceito, mas no simples fato de se questionar a capacidade da mulher, quando na mesma situação, um homem ocupante do cargo simplesmente o assume com legitimidade inquestionável. E tal cenário só vai mudar na medida em que mais mulheres se interessarem por cargos políticos, não se deixarem abalar pelo preconceito e ir a luta para ganhar o devido respeito nas organizações.
Atualmente sou grata pelo fato do Prefeito confiar no meu trabalho e deixar de lado o preconceito, exigindo de mim o mesmo que exige dos demais. Sinto que esta oportunidade contribui para eu consiga fazer a minha parte para que o machismo subjetivo e impregnado na cultura organizacional perca força a partir do meu trabalho. Mas e você, o que já fez para mudar esta realidade?
O questionamento não vai apenas para as mulheres, ok? Mesmo que o assunto não o incomode, pense no quanto o ambiente de trabalho poderia ter melhores profissionais, mas não os tem, pelo simples fato de que o mérito vem depois da análise superficial e machista que muitos fazem das mulheres. Antes de comentar qualquer coisa a respeito de uma colega de trabalho, pense: preciso mesmo questionar isso? não estou ofendendo minha colega pelo simples fato de duvidar de sua capacidade?
sheryl-sandberg

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