Simplesmente me acostumei…

Rafael Rebelato
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Cultura organizacional no setor público

Pássaros criados em gaiola, acreditam que voar é uma doença.”
Alejandro Jodorowsky

Me acostumei a acordar cedo para ir à escola. E então, desde que me entendo por gente, acordo às seis da manhã. Me acostumei a enfrentar um trânsito caótico todos os dias e me acostumei a ouvir no rádio que o país está ruim, que não teremos mais jeito, que o flamengo vai ser campeão (como bom flamenguista não pude resistir à piadinha).
Me acostumei a ouvir que o melhor caminho para me estabelecer na vida era passar em um concurso público. E assim me acostumei a estudar todo dia até alcançar o objetivo final. Virei servidor público e me acostumei a receber meu salário no mesmo dia de todo mês.
Mas, mais do que acostumar-me com o meu salário, acostumei-me com a instituição onde trabalho, com o ar condicionado que esfria no inverno e esquenta no verão, com o cafezinho servido em todas as reuniões (as infindáveis reuniões). Me acostumei com a conversa fiada no corredor, com os happy-hours no fim do expediente, com os bons e os não tão bons colegas.
A vida é assim, a gente se acostuma. Se acostuma a reclamar do governo. Se acostuma a falar mal da instituição. Se acostuma com a falta de recursos. Se acostuma com as piadinhas sobre como servidor público não trabalha.

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Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.”
Marina Colasanti

Não quero me acostumar

A gente não devia colocar os fones de ouvido toda vez que o colega ao lado fala mal da instituição e fingir que está satisfeito com as políticas adotadas pela organização. A gente não devia se esconder atrás da pilha de processos e fingir que está trabalhando. A gente não devia achar que o problema nunca é nosso.
Mas infelizmente, ou felizmente, a gente é gente (eu sei, trocadilho piegas).
Ok, Alexandre, você quase me convenceu a subir no alto do edifício e me jogar de lá com uma pilha de processos na mão. O que é que todo este blá blá blá tem a ver com comunicação. Mudança de atitude é coisa de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas (só para usar a palavra da moda).

O que tudo isso tem a ver com comunicação

A resposta para essa questão é simples. T U D O. Este é exatamente um ponto de extrema intersecção entre a área de Gestão de Pessoas e a área de Comunicação das organizações: A mudança de cultura.
Não é à toa que diversas organizações subdividem a comunicação e deixam a comunicação institucional ligada à direção da Casa e a comunicação interna relegada a segundo plano na área de gestão de pessoas.
Não que a gestão de pessoas seja uma sub-área, pelo contrário, talvez seja uma das áreas mais estratégicas da organização. A grande questão é que se você está com dor de dente você não vai procurar um oftalmologista. Um profissional de RH até pode fazer comunicação interna, mas como diz o ditado, para quem tem um martelo, toda solução vira prego.

Cultura organizacional

Partindo dessas premissas, todo o blá blá blá do início deste texto tem um motivo, falar sobre mudança de cultura. E como a responsabilidade por agir em uma campanha de mudança atitudinal deve ser compartilhada com a área de gestão de pessoas e a comunicação da organização.
Apenas ações de comunicação não mudam uma cultura sedimentada por anos e anos. Ações de gestão de pessoas isoladas, também não. Nenhum super poder altera o modus operandis de seus colaboradores. Se eu fosse falar sobre mudança de cultura organizacional de forma abrangente, escreveria um livro (como existem vários no mercado) e não esgotaria o assunto.
Mas essa não é minha intenção. Minha intenção aqui – como vocês já devem ter percebido – é provocar. Colocar uma pedra debaixo do colchão de seu berço esplêndido onde você permanece deitado e bem acomodado. Fazer com que você, profissional de comunicação, pense sobre a importância de seu trabalho na colaboração do processo de mudança organizacional e mudar seu posicionamento, enxergando que podemos trabalhar de forma diferente.

A gente deveria…

A gente então deveria. Deveria parar com o complexo de Gabriela (me perdoa Gabi mas você é a exceção que confirma a regra). A gente deveria parar um pouquinho de alimentar o nosso blog e conversar com os colegas da outra unidade, sentar com a equipe de gestão de pessoas da nossa organização e traçar uma estratégia comum.
A gente deveria perceber que como todos os demais servidores fazemos parte do mesmo sistema e que temos todos algo em comum a entregar: Um melhor serviço para o cidadão.cultura

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