Cultura inovadora numa instituição conservadora

Randolfo Decker
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É possível?

“Para uma organização excelente, a inovação é a única coisa permanente”. Tom Peters

Como conseguir quebrar paradigmas e instituir uma cultura inovadora numa instituição onde reina o conservadorismo? Ainda mais em se tratando de uma instituição que trabalha com fomento de pesquisa e inovação? Caso essas perguntas tenham despertado sua atenção, então vamos em frente.

Saindo do habitual

Sim, eu falo da FAPESC, uma das 14 instituições de governo que participam do programa “HubGov: Governo do Futuro”, coordenado pela plataforma WeGov. Na Fapesc trabalham, hoje, 60 profissionais com alta qualificação acadêmica (graduados, especialistas, mestres, doutores e pós-doutores). Não há um quadro próprio. Poucos são servidores públicos. A fundação, vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), concede recursos financeiros para fomentar projetos e programas de pesquisa científica e de inovação.
O termo inovação freqüentemente é usado para designar o “novo”, algo original e inusitado. A inovação, portanto, envolve geração, aceitação e implementação de novas ideias, processos, produtos ou serviços no meio organizacional. Muitas vezes, inovação é tida como sinônimo de criatividade. Porém, somos todos criativos. Mesmo quando se é avesso a mudanças e, portanto, apegados ao modelo a que estamos condicionados. Porém, o objetivo maior da inovação no serviço público é de otimizar os recursos disponíveis, por meio de formas inovadoras de gestão e organização, promovendo mais benefícios à sociedade. Assim, a inovação serve como ferramenta para melhorar o desempenho organizacional do Estado e, por fim, garantir – e justificar – a sua existência.
Pode parecer um contrassenso que a cultura seja conservadora numa instituição que trabalha com inovação. Isso não significa que não ocorram mudanças ou inovações, restritas a alguns processos e tecnologias (por exemplo, uma avançada plataforma de gestão de projetos). Entretanto, o “ponto cego” perceptível é que a maioria que lá trabalha usa muitos – e bons – conhecimentos e experiências arraigadas há anos. Pesa, ainda, carregar um enorme paquiderme chamado burocracia. E, cognitivamente, tudo que fazemos repetidamente torna-se habitual.
Nossa dificuldade está em sair da ponta do “iceberg da realidade” para “mergulhar” e acessar o imenso potencial subconsciente visando encontrar soluções inovadoras, em conjunto, e não apenas ficar preso às verdades individuais, já consagradas. Questionar-se com perguntas socráticas, sobre como pensamos e fazemos é uma excelente técnica. Outras estratégias, como ter coração aberto, mente aberta e vontade aberta são essenciais para combater as suposições e julgamentos, grandes inimigos da percepção e compreensão do habitat em que operamos.

Abraçando a mudança


Precisamos estimular mais inovadores em nossas organizações públicas – aqueles que abraçam a mudança e, inclusive, a burocracia – na busca da resiliência e de melhorias contínuas. Implica em compreender percepções divergentes, pessoas apáticas ou até controladoras. Precisamos ter consciência de que todas as mudanças encontram resistências. Só a vida muda a todo instante, como estratégia para se manter eterna.
Com muitos anos de casa, eu e os colegas Edson Veran, Leonardo de Lucca e Juarez Lopes (os três últimos servidores públicos) aceitamos o desafio de conhecer, aprender e reaprender técnicas e ferramentas focando em cultura da mudança e inovação no serviço público. Paulatinamente estamos replicando a metodologia internamente, por meio de oficinas, palestras, leituras, testes, dinâmicas e atividades práticas. É uma oportunidade ímpar para que todos possam se reunir, regularmente, para pensar e agir, coletivamente – cocriar e colaborar – na busca de soluções de velhos problemas. Passando, necessariamente, pela mudança do mindset, para premiar a escuta ativa, a tolerância ao diferente, melhorar a comunicação e relacionamentos, desaprender para reaprender e convergir para uma cultura inovadora.

Unindo conhecimentos

Estamos trabalhando com foco em nosso desafio: a otimização da gestão de processos de CT&I na FAPESC. Em paralelo – e com cautela – tentando instituir e fortalecer a cultura de inovação. Constatamos que por trás do conservadorismo citado, há grandes forças e oportunidades que permitirão quebrar paradigmas e avançar para as mudanças e inovações desejadas. O maior insumo disponível são os múltiplos conhecimentos e o engajamento daqueles que querem mudar para melhor. Porém, a energia vital é – e será – sem dúvida, o propósito comum. Para isso, precisamos responder: o que nos liga e para que estamos aqui? Quem somos e o que fazemos hoje? Qual o nosso legado como gestores de programas e projetos de pesquisa e inovação?
As respostas estão sendo construídas em conjunto. A mudança é um processo. Nossa missão – como facilitadores – não é fácil. Acreditamos que inovar é possível, para superar antigas dores (frustrações) e dar lugar a uma cultura de soluções. Nosso sonho é inspirar as lideranças que apoiam mudanças e inovações, fortalecer o espírito criativo e colaborativo, ter equipes coesas e maduras, envolver todos na busca de um propósito alinhado com o da organização. Isso refletirá na qualidade de vida do time interno e dos serviços prestados ao público externo.
Como a nossa energia segue o que focamos com a mente, esperamos que um programa de capacitação e de cultura inovadora seja permanente, independentemente da forte hierarquia no Governo e das danças de mudanças políticas. Isso nos motiva a seguir em frente. Estamos caminhando devagar, pois já tivemos pressa. Aprendemos a desacelerar, para avançar mais rápido.

7 thoughts on “Cultura inovadora numa instituição conservadora

  1. Muito Bom Randolfo. A inspiração é para todos aqui na Fapesc, mais ainda a reflexão e a execução. Borá lá …com fé, coragem, determinação e pensamento divergente, vamos avançar!!

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