Sandro Pontes
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Uma ferramenta para gestão pública do século XXI

Até bem pouco tempo atrás, para um cidadão brasileiro, especialmente o de classe social menos favorecida, alcançar um pleito ou mesmo uma resposta do Poder Público para alguma demanda sua, era praticamente impossível.
Infelizmente o Poder Público ainda não se encontrava devidamente preparado para o diálogo com os administrados, somente com um mandamento judicial e olhe lá. Portanto, se o cidadão não tivesse como arcar com um advogado especialista poderia correr o risco de não ter um direito legítimo atendido.
Entretanto, com o advento da tecnologia da informação e comunicação as regras do jogo mudaram drasticamente. Hoje, nem mesmo uma ouvidoria ou qualquer outro meio de comunicação formal são suficientes para responder aos reclamos urgentes da população.
Ferramentas “informais” como redes sociais e ou sites de petições on-line estão mudando a cara da gestão pública no Brasil. Ainda tudo é muito recente, mas o Poder Público está sendo forçado a mudar alguns dos seus conceitos e paradigmas.

Participação social efetiva

Dois exemplos tocantes – e efetivos – são de abaixo-assinados do portal Change.org:
Num deles uma mãe necessitava de uma cirurgia cardíaca para o seu filho, no Distrito Federal e tentou de todas as formas pelas vias convencionais sem, contudo, obter sucesso. Até que, num ato de desespero recorreu a um abaixo-assinado pelo site.
Em pouco tempo ela conseguiu mais de 175.000 assinaturas e levou até o Secretário de Saúde do DF. Até que enfim se viu a força mobilizadora do canal, pois ela conseguiu a cirurgia para o seu filho e ele já se recupera da intervenção delicada.
Em depoimento, Débora lembra de um episódio curioso: no dia da cirurgia de Artur, uma médica veio falar com ela no estacionamento do hospital.
“Acredito que ela trabalhava no setor de liberação ou regularização de cirurgias”, diz a mãe do Artur, ao relembrar que a especialista quis censurá-la por ela estar “fazendo alvoroço com este abaixo-assinado”.
Naquele momento, Débora teve uma certeza – “foi aí que eu vi que o abaixo-assinado havia feito eles se mexerem”. A cirurgia do Artur ocorreu graças ao “fuzuê” causado pela petição online.”
Outro exemplo vem do Rio Grande do Sul, cidade de Novo Hamburgo, onde uma mãe pleiteava uma cirurgia de visão para o seu filho de seis anos. Em pouco tempo ela conseguiu mais de 130.000 assinaturas e alcançou o seu objetivo.
Neste caso, houve uma nota oficial da Prefeitura de Novo Hamburgo.

Novos papéis e interações

Estes dois são os exemplos mais diretos e que mostram que o gestor público, seja ele de qualquer esfera ou Poder não pode mais ignorar as diferentes ferramentas de interação que estão redesenhando o papel da cidadania e redefinindo as políticas públicas no país.
E não se engane, este é só o começo da revolução da gestão pública no Brasil. Ainda não e sabe exatamente onde vai parar, mas é alvissareiro que a tecnologia tenha permitido a criação de novas formas de interação entre gestores públicos e administrados.
O mais interessante de tudo isso, para finalizar, é que se trata de um processo “bottom up” e não “top down”, ou seja, é povo, o principal patrocinador e destinatário das políticas públicas, quem está moldando um novo formato de interlocução com os gestores públicos.
Os que não se adaptarem correm o risco de serem atropelados pelos novos tempos.
Foto: Avel Chuklanov