A "PREFStização" dos órgãos públicos

Hilário Júnior
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E a conta cobrada em 2016

Semana passada, motivado pelo post abaixo da Prefeitura de Belo Horizonte no Facebook, acabei puxando um debate em um grupo de profissionais de social media sobre se era válido um orgão público virar um “divulgador de mapa astral”:
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Discussões de gosto pessoal a parte, Marcel Bely, Ex-Prefeitura de Curitiba e atualmente atendendo Google Brasil, na Mutato-SP, comentou o seguinte publicamente em seu perfil:
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Há alguns meses estive em Belo Horizonte para o “BH Social Media” e uma das minhas atribuições foi justamente falar sobre cases de orgãos públicos nas redes sociais. Em vários momentos critiquei a postura adotada pela capital paranaense, mesmo conhecendo praticamente toda a equipe, por ter compreendido só algum tempo depois a real missão da “zuera never ends” dos canais sociais da mesma:

“Divulgar os serviços, chamar atenção para os mesmos e fazer um atendimento diferenciado do público”.

Minha grande preocupação quando fazia críticas a tal estratégia de comunicação residia única e exclusivamente em pensar sobre como seria “recebida” a “zuera never ends” em momentos de extrema cobrança dos agentes públicos AKA ELEIÇÕES.
Em 2014 vivemos um mar de lama nas redes sociais sem precedente. Amizades desfeitas, brigas e acusações de todos o lados, radicalismos e discussões sem fim… a vitória de Dilma Rousseff foi apenas um ensaio para um embate ainda maior e mais próximo de cada um. As eleições municipais tem um clima muito mais “caseiro”, na minha opinião, do que eleições nacionais por se tratar da política que influencia a olhos vistos o nosso dia-a-dia. É o transporte público em cheque, a mobilidade urbana, o asfalto, a questão do lixo etc. Se nas eleições gerais se discute o macro, nas municipais discutimos o micro e os destinos de cada rua, esquina e poste da nossa cidade.
Você acha mesmo que as discussões vão ser menos ferrenhas do que no ano passado? Tsc tsc…

Buracos nas ruas X Ned Stark

Se em “Game Of Thrones” Ned Stark anunciava com certo temor a chegada do inverno, em Curitiba o “degolado” patriarca de “Winterfell” era o feliz anunciante de que noites geladas ou de calor estavam por vir…
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… mas como reagiria a Prefs e a “sua mão” Stark, se fossem indagados por esta eleitora da cidade de Belém, respondendo a um “post casual” da terra das mangueiras?
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Já trabalhei em algumas eleições (seis no total) e, se eu fosse responsável pela comunicação da oposição à Prefeitura de Belém, usaria o expediente deste post em questão para causar um “mau estar” na comunicação da mesma. E antes que alguns torçam o nariz para esse tipo de “estratégia”:

Não existe campanha política no mundo sem comparação ou criação de crises nas campanhas alheias. Talvez a tática mude de lugar para lugar, mas a estratégia é sempre a mesma. SEMPRE!

Quem garante, portanto, que daqui há exatos 12 meses, quando as equipes de comunicação das campanhas municipais estiverem trabalhando na cidade, não usem de outros expedientes para “manchar/questionar” a reputação da administração?
Até Curitiba tem seu espelho do contrário. Chamado de Prefescura de Curitiba a página com mais de 14 mil fãs visa apontar as falhas na comunicação da cidade e apresentar a Curitiba Real a todos os munícipes. Muito mais do que “recalque” ou “perseguição política”, a Prefescura de Curitiba ensina uma coisa importante para quem trabalha e curte conteúdos públicos carregados de felicidade e zuera: Você está preparado para os questionamentos reais a cerca do trabalho desenvolvido pela sua prefeitura/governo/orgão? Ou você vai fingir que nada aconteceu e chamar de recalque?
Ainda conversando com as pessoas no post-debate que falei no começo do texto, me chamou a atenção a frase (velha conhecida de muita gente, é verdade) dita pelo Matheus Cardoso da Silva :

“Publicitário tem que parar de fazer propaganda pra publicitário e começar a focar no mundo real”.

Bingo! Muitas vezes somos seduzidos pelos elogios, pelos prêmios e tapinhas nos ombros dos colegas e esquecemos que temos que conversar e falar com um público muito mais amplo do que as “200 pessoas” que fazem parte do mercado…
… filosofias a parte, fui conversar com o Bruno Scartozzoni , que já trabalhou em algumas campanhas políticas também e hoje se dedica à atividade de consultor de redes sociais, sobre o que ele acha do fenômeno das “prefs” e como talvez possa ser a recepção destas estratégias de comunicação no que diz respeito às eleições do ano que vem:

“Eu entendo as críticas feitas à página da Prefs. De alguma forma ela é uma extensão virtual de um espaço público e, portanto, há aquela noção de que espaços públicos devem ser lugares impessoais e sérios, com cara de repartição.
No fundo critica-se a página da Prefs porque o contribuinte está pagando o tempo de uma equipe que o usa para fazer brincadeiras.
Mas, por outro lado, as brincadeiras que eles fazem, até hoje, se provam eficientes do ponto de vista de comunicação. Muito mais eficientes do que se fosse algo sério, com cara de repartição.
Acho que podemos resumir assim: você prefere um servidor público de terno e gravata que seja preguiçoso e te atenda mal, ou um de bermuda e camiseta que atenda suas necessidades?”. Ainda sobre a questão das eleições do ano que vem e como a gente pode enxergar a comunicação feita pelos demais orgãos públicos Bruno falou o seguinte: “Nunca tinha pensado sobre isso. Possível sempre é. Mas acho que há problemas bem mais importantes a serem discutidos numa eleição. Mídias sociais ainda não tem esse nível de importância ndsse tipo de debate. O que a gente tem que separar e entender é: Existem pessoas boas fazendo trabalhos bons, e tem gente que pega o bonde andando ou tenta surfar na tendência e acaba estragando o todo da comunicação”

Discordo do Bruno quando ele diminui a importância das redes sociais para a condução de uma campanha, na última eleição vimos claramente a candidatura de Marina Silva sendo desmantelada pela comunicação adversária e boa parte da estratégia empregada no “desmantelo” foi feita através da internet.
(Obs: O Bruno veio comentar comigo o seguinte: “Acho que teve um ponto ali que você não entendeu direito, ou então eu que me expressei mal. Claro que as mídias sociais são importantes nas eleições. Só não acho que o prefeito atual de curitiba possa perder votos decisivos por causa do trabalho de mídias sociais que a prefeitura faz. Mesmo que fosse o pior trabalho do mundo, essa ainda não é uma pauta importante.” Retificado, então. 🙂 )
Discutindo depois sobre todos os pontos abordados neste texto, o Bruno deixou um pensamento interessante: “Temos que saber separar quem criou a tendência e quem é “gente ruim” surfando na onda e fazendo a coisa errada ou mal feita”.
Diferente dos meus outros textos, onde tentei nortear o meu e o seu pensamento através da minha opinião/vivência, vou deixar aqui um exercício em aberto para quem leu até o final:


Pergunta

Você acha que é possível que se deturpe a percepção da opinião pública sobre a condução da comunicação do seu serviço/produto, a ponto de que pessoas que amavam muito uma coisa/serviço, passem a odiá-lo e a questioná-lo em sua veracidade, capacidade de gestão e de resolução de problemas, partindo-se também da premissa que todo objeto/serviço existe para resolver uma determinada demanda?
Se sim, junte ainda a experiência vivida por todos nós nas últimas duas eleições… Se a sua resposta continuar sendo SIM, então está na hora de rever se a sua estratégia de comunicação (ou aquela que você tanto ama) não tem brechas e não pode ser usada contra você de alguma forma.

Lembrem-se: Hoje em dia, ganha a eleição quem erra menos e não quem apresenta o “melhor programa”, infelizmente.

Tem algo a acrescentar? Me manda um e-mail: contatohilario[@]gmail.com
Ou comente no post que eu respondo e acrescento ao texto, caso seja pertinente. 🙂

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